Gosto de perceber os objetos e imaginá-los animados. Também gosto de perambular pelas ruas de Fortaleza. Costurei esses dois hábitos com o meu olhar, e a grande presença dos manequins nas ruas e vitrines da cidade me chamou atenção. O resultado é este ensaio fotográfico em construção, que gira em torno desses seres inanimados.
Desde os primórdios da fotografia de rua, os manequins atraem o interesse dos fotógrafos, basta observarmos as fotografias de Paris, do genial Eugene Atget, bem no final do século XIX e início do XX. Já em nosso contexto, esses simulacros de seres humanos, derramados em nossas ruas, praças, shoppings, centros comerciais, feiras etc., dispostos individualmente ou em grupos, representam papéis sociais e atraem os olhares dos consumidores para os produtos colocados sobre os seus corpos. Nós também buscamos atrair os olhares e a aprovação uns dos outros. Nesse sentido, somos como os manequins, porém os tabus que cobrem nossos corpos não os alcançam! Podemos dizer que os manequins são despudorados, ficam em público como ficamos sozinhos, longe dos olhares dos outros. Parafraseando Sartre, posso até arriscar pensar que para os manequins não há inferno, pois não temem o olhar do outro! Podemos encontrá-los exibindo em público, como diz o povo, as partes íntimas, nuas ou cobertas com lingeries ínfimas, ou ainda a condição de enfermo em leito hospitalar, situação constrangedora para muitos de nós, que nos pensamos indestrutíveis! Outras vezes, se apresentam como crianças vestidas para festa, ou como médicos, noivos, vigilantes, bombeiros etc. Enfim, os manequins nos representam, são como espelhos que nos refletem! Por isso, merecem ser fotografados e animados com a minha imaginação: e se eles nos observam?